A jornada foi longa e complexa, mas as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) encurtaram a distância entre o Rio de Janeiro e Londres, permitindo a troca de informações em tempo real e em ambiente virtual. O resultado? Após nove cirurgias, os gêmeos craniópagos Eduardo e Arthur Lima, de quase quatro anos, foram separados.
O processo envolveu uma colaboração internacional que contou com a conectividade da RedeRio, uma rede local ligada à RNP, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa do Brasil, tanto no Hospital Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer quanto em um laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Os meninos estavam internados no Hospital Paulo Niemeyer desde os oito meses de idade, e o laboratório foi onde o treinamento ocorreu em um ambiente de realidade virtual criado a partir de tomografias computadorizadas e ressonâncias magnéticas dos gêmeos.
Durante meses, o cirurgião inglês Owasi Jeelani, fundador da Gemini Untwined Charitable Foundation, de Londres, e o médico Gabriel Mufarrej, chefe de cirurgia pediátrica no Instituto Estadual do Cérebro, no Rio de Janeiro, realizaram “ensaios” de cirurgias pela internet. Nessas simulações, ambos usavam óculos de realidade virtual e testavam as técnicas para os dois últimos procedimentos de separação, em que o cirurgião inglês participou presencialmente. Nos ensaios, eles se comunicavam e se movimentavam como se estivessem na mesma sala.
“Fizemos tudo online, trocando informações por mensagens e videoconferências. Durante os treinamentos na PUC-Rio, usávamos os óculos de realidade virtual ao mesmo tempo, ele lá e eu daqui, simulando as cirurgias dentro dos dois modelos de cérebro em 3D”, explica o neurocirurgião Mufarrej.
Com o sucesso das cirurgias, Eduardo e Arthur Lima se tornaram os mais antigos gêmeos craniópagos – gêmeos com cérebros fundidos – a serem separados, permanecendo em observação no Instituto Estadual do Cérebro. O hospital agora é parceiro da Fundação Gemini Untwined, e a equipe do Dr. Mufarrej se tornou referência em cirurgias de separação de gêmeos craniópagos na América Latina.
“Esses gêmeos se enquadravam na classificação mais grave, mais difícil e com maior risco de vida para ambos. Poder terminar o processo com os dois vivos é de extrema satisfação e felicidade”, conclui Mufarrej.